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O blogue do programa de música pop em português
da Rádio Centre-Ville FM, 102,3, Montréal.

21.6.05

MÚSICA DO PROJETO MUTAÇÃO NA FAIXA

O projeto Cidade Mutação rolou em novembro do ano passado em São Paulo. A idéia era a seguinte:

"O CIDADE MUTAÇÃO propõe-se a registrar a cena artística de São Paulo nos anos 00. A intenção é que personagens representativos retratem as formas urbanas de hoje - o caos e pólo de inspirações nascidos da composição de tantas raízes diferentes.

Com a vontade de capturar essa cena, alguns dos artistas que influenciam as ruas e alimentam-se dessa inspiração urbana criamos esse projeto."

Foram mais de 50 artistas, mexendo com música, texto, grafitti, instalações, oficinas. Veja o que rolou no site oficial.

O legal é que eles colocaram MP3 de graça no site pra baixar! A música é de qualidade, vale a pena: tem Junio Barreto, Mamelo Sound System, Hurtmold, Benzina (projeto de eletrônica do guitarrista do Ira!, Edgard Scandurra), Parteum, Nego Moçambique, Cansei de Ser Sexy e outros. Cate tudo aqui, fotoxope aquela capinha esperta e tenha uma bela coletânea caseira pra impressionar os amigos.

Não deixe de checar também os textos, com ficção da nova geração de escritores brazucas, como Marçal Aquino, Clarah Averbuck, Mário Bortolotto, Ronaldo Bressane e outros que tais.

18.6.05

NEGO MOÇAMBIQUE, SALVE SIMPATIA


Nego em pic de Na maré, Montreal ao fundo. Posted by Hello



O Nego Moçambique, músico de Brasília nascido Marcelo de Jesus, foi a exceção ao teor arrogante do Mutek deste ano (ver post abaixo). Antes do show, o Na Maré foi conversar com ele, e o Nego disse que estava nervoso, porque não sabia como o público reagiria ao som dele. Bom sinal: pelo menos ele tá interessado no público.

E o show foi tudo de bom. Nego faz um som dançante, estranho, original. O balanço é house, soul, funkeado, mas a batida é mais quebrada, ainda assim fácil de dançar. Ele canta (bem), vai botando samples de funk, funk brasileiro, dancehall, o caralho a 4. É tão bom. Putz. E o cara dançando? Uma ginga incrível - o cara é nego mesmo, como disse o Na Maré. Era o encerramento do festival, não tinha muita gente, mas quem tava lá dançou o tempo todo e Moçambique foi muito aplaudido no final.

Estamos na espera ansiosa do CD que Nego lançará em breve.

LINQUES:

* Entrevista do esperto Nego pra BitsMag
* Entrevista pra URBe
* Alexandre Matias comenta o primeiro disco do Nego

MUTEK, UM PASSO ATRÁS

Quando eu comecei a prestar mais atenção em música eletrônica, uma das coisas que eu achei mais legais foi a mudança de paradigma no eixo criação/ fruição (ou produção/ consumo). Pra começar, neguinho não precisava de dez anos de treinamento formal ou informal pra dominar um instrumento, e um fã poderia facilmente se tornar o artista. Depois, o artista ou "produtor" tendia a se enconder atrás de inúmeros apelidos, se tornando virtualmente anônimo. A fruição da música, em festas, raves ou clubs, se dava através do canal do DJ, que, mesmo sem ser completamente anônimo, não chegava com a aura do Artista. E a experiência da fruição de música era de imersão total: o ambiente, os sons, as pessoas, as luzes, as drogas, tudo contribuia para que a música, mesmo sendo o elemento mais importante, nunca ultrapassasse o todo, a intangível vibe. A audiência, portanto, era ativa e participante, e influenciava a performance improvisada do DJ.

Depois as coisas foram mudando. Apareceu o superstar DJ, e os produtores foram ficando cada vez mais cheios de si e exigindo crédito para sua pretensa genialidade. Chato. O Mutek, um dos mais importantes festivais de música eletrônica do planeta, apareceu mais ou menos nessa época - fins dos 90 início dos 00 - pra preencher a lacuna de eventos em que o produtor de música eletrônica não está lá pra garantir a vibe, mas sim pra mostrar seu conhecimento, seu virtuosismo e, hehe, sua pose - ele é o centro das atenções. Mesmo assim é legal, a música tende a ser bem-feita e interessante.

Este ano, porém, rolou o extremo: o Artista se punha diante do público, que respeitosamente ouvia tudo sentado, olhos fixos no músico cercado de pilhas de equipamento imponente e intimidante. Antes do ínicio das apresentações, o silêncio total da platéia era exigido, com shhhs e shut-ups. A agência do público se resumia ao órgão auditivo e visual.

Eu entendo a proposta, mas não é a minha praia. A postura de respeito, a hierarquia entre público e artista, a falta de agência do público, tudo isso eu acho um retrocesso. Podia muito bem ir ao museu assistir a um concerto de música eletroacústica. Pelo menos lá, os músicos não exibem tanta atitude...