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O blogue do programa de música pop em português
da Rádio Centre-Ville FM, 102,3, Montréal.

3.9.04

FUNK CARIOCA

E num é que no outro dia tou numa festinha ali na Avenida do Parque, meio chata por sinal (tocaram até Cat Stevens, aquele que se converteu ao Reino do Islã e agora chama Yusouf Islam) e o rapaz dono da festa vira e comenta, "Ah, tava lendo um artigo sobre os bailes funk do Rio", e eu, ingênua, sempre achando que todo canadense é bem educado (nos dois sentidos), "Mess? Nunca fui, sacumé, morando em São Paulo, mas adoraria..." E ele, "Não, você está falando de outra coisa com certeza (!!!) Porque esses bailes que eu li a respeito..." Aí eu interrompi, já sabendo que ia rolar o lengalenga sobre tiros, gangues, letras chulas e o caraio a 4, e disparei um discursinho meio irritado sobre como o preconceito contra música de preto e pobre é mesmo um saco, e que as pessoas sequer se dão ao trabalho de se informar direito sobre o que tão falando.

Bom, não vou aqui falar mais sobre o funk porque seria burro e paternalista e boçal. E o funk carioca não precisa de mim, de repente sou eu é quem preciso do funk carioca.

Vou mais é cortar e colar: "Tem uma coisa que é essa batida que se fez no Rio: devoraram miami bass e devoraram a música black mesmo, e nos devolveram o funk carioca, que é essa batida forte que parece um miami misturado com maculelê, sei lá o que é aquilo! Essa batida pra mim é do maculelê, aquela coisa da capoeira que neguinho fica brigando com facão. Então é evidente que isso no Brasil funciona, tá na cara, ou não teria baile todo domingo, a torto e a direito e pra tudo quanto é lado. Imagina como aquilo deve soar no ouvido daquele pessoal [os gringos]. Talvez seja um pouco como soa o dancehall pra eles, que é mais ou menos o mesmo assunto. É totalmente diferente do funk carioca, mas é o mesmo assunto.

"Mas é lógico que a classe média odeia funk. O funk é a negação da fórmula básica da música brasileira. Aquela harmonia complexa, aquela coisa Djavan, João Gilberto, João Bosco, Chico Buarque... Tudo isso é muito complexo. Tem aquele lirismo, aquela coisa que os meninos dos Los Hermanos têm. Isso é música pra classe média. Mas tem uma coisa pra mim muito mais forte de preconceito contra o funk como música de pobre, do que contra a qualidade da música."

Esse foi o Nego Moçambique, que não é funkeiro, mas faz música eletrônica. Aqui você lê a entrevista completa.

E pra quem precisa do um apoio argumentativo bem classe média, cate aqui um artigo bem acadêmico do antropólogo Hermano Vianna, escrito nos idos de 1990. Tá em PDF, visse?

O Atlantis Tendamix é um site esperto sobre cultura dance no Rio.

E finalmente, SIM!, vai rolar funk no programa sim.