WARMING UP THE TAMBOURINES
Pra mim a pergunta está errada. Porque o fato é que tem música no universo luso sendo produzida em inglês. Tá lá pra todo mundo ver: é o portuga Belle Chase Hotel, são inúmeras bandinhas indie paulistanas, e quem não se lembra da Astrud Gilberto, nos idos dos anos 60, gravando nos EUA com sotaque e letras traduzidas de gosto duvidoso? Se existe é fato consumado. A pergunta certa então seria: por que e como esse pessoal optou por colocar a língua pátria no armário? E quem está fazendo isso? É no morro? É no Bairro Alto? É em Olinda? É nos Jardins? No Capão Redondo? É com roque, hip-hop, bossa nova, samba?
Quem faz faz por questões de mercado, claro, o que nem sempre se traduz na opção mais esperta, considerando-se que muitas vezes o mercado fonográfico internacional se interessa mais por sons "exóticos" em um idioma "estranho". E também por razões de uma paradoxal "autencidade". Tipo, só é rock quando soa como uma banda inglesa ou americana. Mas daí a suposta "autenticidade" do indivíduo como criador vai pro saco? E também tem quem faça por ideologia, que leva a gente a pensar em dominação cultural e classe social. E nesse momento começa a dar nó, porque, pelo menos no Brasil, quanto mais grana se tem, mas se parece propenso a ceder à hegemonia gringa... Ou tou errada?
Mas engraçado mesmo é que ninguém disputa a autenticidade de uma Björk (ou ABBA?). E vai em Belo Horizonte e tenta dizer pra mineirada que o Sepultura não é de lá... Neguinho cai de pau. Scorpions (ui)? E os franceses do Air? E Mozart? Don Giovanni é menos alemã porque não chama Herr Johannes?
Mas essa problemática toda está com pergunta demais e resposta de menos. E afinal comecei a pensar nisso pra poder decidir se toco no programa coisas criadas por artistas do mundo lusófono que resolveram singing in the rain - e que tempestade, mano.
E a solucionática é: vou tocar sim, se quiser e se gostar e se pedirem e se agradar. Porque leio Joseph Conrad e Samuel Beckett. Porque, no fim, criar esse tipo de exclusão é sempre sectário e banal.
Que é que tu achas? Dizaê.
2 Comments:
oi! eu acho assim que pode cantar em inglês, mas então ñ deve chamar de música brasileira. tipo se o governo ou um projeto para ajudar eh feito, bandas que cantam em inglês deviam ficar de fora. eh isso. legal o blog, gostei. um beiju, ana paula
Depende da audiência que você quer atingir. Se você quer que gringos ouçam, óbvio, tem que ser em inglês, ou ...ês. Mas aí você restringe a audiência brasileira à elite que compreende inglês, ou ...ês.
Se você não dá importância à compreensão da letra, bom, aí pode se comunicar até em tralaláês.
Só me incomodo com essas bandas que posam de politizadas mas fazem letras que a grande maioria dos brasileiros não compreendem. Desse jeito só vão contribuir para o lazer da elite etítica.
Claro que isso não desmerece a qualidade musical do seu trabalho. Mas acho que, em certos casos, empobrece a relevância da sua mensagem intelectual.
Daniel, de Sydney, Austrália.
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