Send As SMS

O blogue do programa de música pop em português
da Rádio Centre-Ville FM, 102,3, Montréal.

5.10.04

MEMES, CHEIROS, MUSA, CIÊNCIA

E o Nobel de Medicina/Psicologia foi pra uma pesquisa cabra da peste este ano: os americanos Richard Axel e Linda Buck levaram pra casa a estatueta e o checão de 1,3 milhão de dólares por conta de suas ruminações e anos passados em laboratório descobrindo como a gente cheira e como o cheiro e a memória dos aromas funcionam. Esses caras foram os primeiros a sacarem como e porque nós (que cheiramos tão mal perto de outros mamíferos) conseguimos acumular tantas imagens e sensações olfativas. Nem me arrisco a entender a coisa, mas tem a ver como umas proteínas e uns genes no nariz e uma celulinhas renováveis do cérebro. É por isso que a gente lembra de cheiros antigos (borracha cor-de-rosa do jardim de infância) ou perigosos (peixe podre).

(Esses cientistas inventam esses nomes de guerra, né não? Vai me dizer que a dupla foi batizada em nascimento como Axel & Buck. Tá.)

Agora falta a pesquisa da memória e da música. É, não falta, sou eu que não sei, tou sabendo. Bom, toda a vez que toca "Como uma Onda", do Lulu Santos, eu me vejo trajando um uniforme ridículo no campão esportivo do Colégio Mackenzie, fazendo a dancinha obrigatória do Dia do Mackenzie, isso porque em um ano os professores de Educação Física escolheram a canção como trilha daquela vexatória exibição. É uma sensação agri-doce, como que uma tatuagem mental da minha solitária adolescência, meu ódio contra aquela instituição educacional e minhas certezas na época inabaláveis. Claro, tem gente que prefere lembrar amores perdidos, mas eu nunca caí vítima desse mal. Mas recordo a minha "adorável" ex-roommate (codinome Devil) quando ouço "Spinning Away", do Brian Eno, o que é uma pena, porque gosto da música, embora o rapaz não tivesse muito senso de noção sobre como se trajar ou usar as madeixas. E por aí vai.

E tem também música sobre memória (em inglês). Eu juro que eu tinha uma lista aqui, mas acabei de perder. São meio chatas essas canções, no sentido de que nostalgia tem um certo ranço, uma coisa nhenhenhém.

O legal do petardo científico de Axel & Buck é que ele classifica essas sensações em genes, dá uma função pra elas, mas não simplifica coisa nenhuma, uma vez que são mais de 3.000 genes que se resposabilizam por mais de 10 mil odores armazenados na memória, todos em uma complexa rede que, no fim, visa proteger a raça. Claro que é bom achar que o leite vencido tá uma fedentina braba, evita piripaques ou óbitos prematuros. Outras funções não são tão claras. Imagino qual seria a função de memória de canções, sejam elas adoradas ou não. Talvez minha aversão a Lulu Santos funcione como um bloqueio natural contra o vício em drogas... Será que devo sempre me afastar de pessoas que gostam de Brian Eno?

Enfim. O Parababélico vai fazer um especial Memória no futuro. Mandem sugestões, tá?